MUNDIALARGENTINA: A revolta estudantil argentina contra MileiLuiza Eineck
Estudante de Serviço Social na UnB
Esquerda Diário
10 de outubro DE 2024
A mobilização com ocupações, que já acontecia desde o início da semana em algumas universidades, cresceu ainda mais com a aprovação do veto na última quarta (10) no Congresso. Medidas espontâneas de revolta estudantil e de ação direta com ocupações nas universidades, cortes de rua, assembleias espontâneas dos estudantes, aulas públicas e enfrentamentos com autoridades, aumentam minuto a minuto, assim como sua “bronca”. São quase 40 universidades ocupadas e em luta. Milei está aprendendo na marra que, às vezes, ganhar - aprovando o veto - é perder.
A lei de financiamento universitário previa a atualização dos orçamentos de 2024 para universidades, aumento dos salários dos docentes de acordo com a inflação, visto que são os salários mais atrasados de toda a administração pública, e que valores das bolsas de estudo sejam aumentados anualmente. A educação superior vem sofrendo duros cortes orçamentários há anos, para se ter noção o orçamento foi reduzido em 76% em relação a 2012. Esse veto reacionário da lei foi votado com o auxílio de setores do peronismo da União Pela Pátria, que negociaram com a extrema-direita de Milei e venderam os direitos estudantis. Essa negociata garantiu o veto por uma diferença mínima de 3 votos, contando com a denúncia contundente dos parlamentares do PTS, Nicolas Del Caño, Christian Castillo e Alejandro Vilca.
A política orçamentária odiosa da extrema-direita de Milei, o gatinho mimoso do mercado financeiro, prioriza o ataque aos trabalhadores, a educação e a saúde com ajustes econômicos, desemprego, tarifas altas, extrativismo e demissões para garantir o pagamento religioso da dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que beneficia apenas os grandes capitalistas e o imperialismo financeiro, quem paga a conta são os trabalhadores e a juventude.
Há dinheiro pros patrões e empresários, mas não para as reivindicações populares? Exatamente. É por esse mesmo motivo que Milei vetou o aumento do pagamento aos aposentados, que saíram às ruas nos últimos meses mostrando como se luta contra esse governo. E, também queria fechar o Hospital Bonaparte, referência em saúde mental, mas os trabalhadores travaram uma importante luta para manter o hospital aberto com assembleias, ocupações e manifestações contra essa medida do governo.
A asfixia orçamentária de Milei abre espaço para as privatizações e a maior precarização da educação, dos serviços, do trabalho e da vida da juventude e dos trabalhadores. Isso vem sendo denunciado fortemente pelo PTS e pela Juventude do PTS com seu coletivo En Clave Roja, partido irmão do MRT e da Faísca Revolucionária aqui no Brasil.
A juventude do PTS está na linha de frente desse levante e revolta estudantil batalhando pela coordenação e unificação da luta junto aos trabalhadores e da população para que se construa uma forte greve nacional pela base e a construção de um plano de luta. A entrada dos trabalhadores em cena ao lado dos estudantes poderia colocar em xeque os planos de Milei e, de fato, derrotá-los, recuperando a tradição histórica de luta da aliança operária-estudantil, que na Argentina protagonizou o Cordobazo em 1969.
Por isso, viemos levantando na Argentina a necessidade de confiar apenas na própria força dos estudantes e trabalhadores, a política das centrais sindicais e organizações estudantis não é de coordenar e unificar as lutas e sim de criar melhores condições para negociações a portas fechadas com o governo (de extrema-direita!). Novamente, a conciliação de classes, fortalece a extrema-direita. Qualquer semelhança com a atuação das burocracias sindicais e estudantis no Brasil não é mera coincidência.
Nesse sentido, é extremamente importante batalhar pelo desenvolvimento de espaços de auto-organização, onde estudantes, professores e não professores possam junto a outros setores em luta que foram atacados por Milei possam se organizar de maneira independente. Temos que apostar com tudo nesse caminho.
O movimento ainda está em ascensão e desenvolvimento e temos que acompanhá-lo, mas desde já nos inspirar fortemente na luta dos estudantes argentinos oxigena os ares tomados pela fumaça tóxica no Brasil. Nos apoiar nesse exemplo de luta nos permite mais força para enfrentar Nunes, Marçal e Bolsonaro, sem nenhuma confiança na política de conciliação da frente ampla de Lula que negocia nosso futuro com nossos inimigos.
Um exemplo escancarado no Brasil é o Arcabouço Fiscal, teto de gastos do governo, que corta bilhões da educação, saúde, assistência social, para pagar a dívida pública e entregar nossas riquezas aos capitalistas, e que acarretará em ainda mais cortes e ataques contra nós. Por isso, precisamos lutar pela sua revogação junto de todas as reformas e cortes na educação, assim como lutar por permanência estudantil para todes que precisem. Imaginem se todo esse dinheiro estivesse à serviço de resolver a miséria vivida pela população. Isso jamais será dos interesses dos governos e dos patrões, dos “de cima”. Como dizem nossos camaradas na Argentina, a saída é dos “de baixo”.
Esse é o legado que temos que nos inspirar e queremos construir internacionalmente, recuperando o legado de luta que pode nos permitir abrir o caminho uma sociedade livre de exploração e opressão, uma sociedade socialista. Para isso a juventude pode cumprir um papel fundamental, quando ela se levanta, tem a potência de ser a faísca para incendiar o velho mundo.
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