MUNDIALUma memória sobre Marta HarneckerValerio Arcary
Esquerda Online
17 de junho de 2019
Estivemos juntos poucas vezes. A primeira, nos anos oitenta, quando ela organizou uma mesa redonda de entrevistas porque estava preparando um livro sobre a experiência do PT e, mesmo sabendo que eu era trotskista, ela foi encantadora. Hoje quero recordar outro episódio. Foi durante a abertura do primeiro congresso do PT, em 1991, nos antigos estúdios Vera Cruz de cinema, em São Bernardo do Campo (SP). Chegou a informação que a embaixada norte-americana tinha sido convidada pela Secretaria de Relações Internacionais do PT, e um representante da diplomacia dos EUA estava presente. Me lembro de ter consultado Markus Sokol sobre o que deveríamos fazer. Decidimos rápido. Era demais. Naquela ocasião eu era membro da Executiva Nacional do PT. Fui até a mesa da abertura, pedi uma questão de ordem, e informei o Congresso que estávamos diante de uma situação absurda. Não era possível começar o Congresso com a presença de um representante do imperialismo nas primeiras fileiras. Ele tinha que sair. Foi um “deus nos acuda”. As correntes da esquerda do PT que, naquela ocasião, defendiam como tese central a necessidade de uma campanha pelo “Fora Collor” correspondiam a 30% dos delegados. Éramos mais de 500 militantes. Nossos camaradas se levantaram e a plenos pulmões gritaram, incansáveis: “Cuba! Cuba! Cuba!”. A bancada da Articulação se dividiu sobre o que fazer. O Congresso foi interrompido para que a Articulação pudesse fazer uma Plenária. Umas duas horas depois voltaram. E exerceram a sua maioria e votaram a manutenção do convite.
Marta Harnecker se levantou e, na frente de toda a direção do PT, e para que todo o congresso pudesse ver, veio se sentar ao lado dos trotskistas.
Ganhou o meu respeito para sempre.
Marta Harnecker, presente!
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